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domingo, 22 de janeiro de 2012

O Pensamento Novo - Terceira Parte

Quando observamos a natureza com um olhar atento, percebemos alguns padrões que se verificam em seu comportamento. Por exemplo, animais e humanos, para se descolarem de um ponto a outro, pelo seu próprio esforço, fazem movimentos de contração e distensão. Para darmos um passo é preciso contrair os músculos da perna e, assim, dar o impulso necessário para frente.

Nosso sistema circulatório é irrigado, basicamente, pelo movimento sistólico e diastólico do coração que, na contração-dilatação, pressiona o sangue através dos vasos sanguíneos. Para atirarmos uma pedra é preciso recuar o braço, portanto, contraí-lo e, depois, num movimento brusco para frente, soltá-la da mão. Assim, podemos dizer que há um algoritmo do movimento no Universo, uma receita substantiva que responde pelo que chamamos de movimento.

Mas, não é só no movimento que percebemos o padrão. Os cientistas nos dizem que as leis da física são as mesmas em todo o Universo. Por exemplo, a lei de gravidade ("os objetos se atraem através de uma força direcionada ao longo da linha que passa pelos centros dos dois objetos e que é proporcional ao produto das suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre os dois objetos"). Esse princípio newtoniano se verifica em todo o Universo.
Os astros celestes têm, via de regra, uma forma esférica (exceto certos asteróides originados de impactos em objetos de grande magnitude). Essa forma esférica se deve, basicamente, às quatro forças fundamentais conhecidas que se verificam no Universo: a força forte, responsável pela estabilidade do núcleo atômico, a força fraca ligada aos decaimentos das partículas, a força eletromagnética que se manifesta nos fenômenos de atração repulsão entre cargas elétricas e a força gravitacional que responde pela atração entre os corpos. Portanto, assim como temos um algoritmo vinculado ao movimento, temos também um padrão algorítmico na essência das formas geométricas universais. Essas quatro forças, agindo simultaneamente, “induzem” à estruturação de formas esféricas. Em outras palavras, o Universo se organiza em face de uma simetria que se revela em dimensões e estéticas diferentes, porém resguardando sempre uma auto-similaridade com a “receita” fundamental.

Há, portanto, uma relação simétrica entre forma e estética, essência e aparência, substância e acidente, instante e acontecimento, acontecimento e transformação, etc.

Mas, essa relação simétrica também se verifica nas pessoas. Há uma simetria entre, por exemplo, etapas biológicas e etapas biográficas na vida das pessoas.

O Pensamento Novo - Segunda Parte

Em consideração ao comentário do Guilherme Knopak.

O que chamamos “verdade”, para mim, é um fundamento. E como todo fundamento, não se mostra, se revela. O espírito da verdade é o fundamento da verdade, revela-se pela essencialidade do pertencimento. Assim como o princípio inteligente é o fundamento do espírito. Nós não o vemos diretamente, mas ele se revela através do ser. Deus é o fundamento de todos os fundamentos. Ele não se mostra, se revela através desses fundamentos, etc.


Assim, todos temos o mesmo (rigorosamente o mesmo) fundamento. A “assinatura” do Creador está "grafada" em toda a creação (pedras, plantas, animais, homens, proto-espíritos e espíritos). Mas, pelo princípio da irredutibilidade do singular, Deus permite que cada um interaja com a essencialidade de uma maneira única, inconfundível. Assim, cada um tem um “olhar” pessoal, irredutível, sobre as mesmas coisas. Entretanto, há uma similaridade de olhares, pois, como revelações do mesmo fundamento, é como se tivéssemos todos a mesma herança genética, de um mesmo progenitor, mesmo assim não seríamos idênticos, mas semelhantes.

Analogamente, é como os filhos: têm o código genético dos mesmos pais (o mesmo fundamento, por assim dizer), mas são diferentes uns dos outros, embora parecidos. Se olharmos o conjunto, a humanidade é uma só. Mas, se olharmos cada um em particular, somos todos diferentes. Porém, ninguém confunde um ser humano com um cavalo (no sentido literal, evidentemente). Basta olhar e saberemos quem é o humano, qualquer humano que sirva de comparação.


Aqui, penso, reside o fundamento da exlética. Cada um é capaz de fazer um alcance possível da verdade. O que muda não é a verdade, mas o alcance de cada um, em face do seu pleroma. Fomos “inoculados” pelo mesmo fundamento da verdade. Contudo, cada um consegue apenas “metabolizar” aquilo que “cabe” no seu possível. Daí a necessidade permanente do segundo olhar. Quando fazemos a repristinação, estamos fazendo um segundo olhar sobre o espírito da verdade. Reprocessamos, resignificamos, aprendemos, acumulamos memória e, assim, alongamos o olhar, porque ampliamos os limites das molduras nas quais enquadramos a verdade.


A metábole, a repristinação, a singularidade, sob estas perspectivas, não têm qualquer relação com a máxima de Protágoras: “o homem é a medida de todas as coisas”. Não há uma "medidade de todas as coisas", mas um "medidor" de todas as coisas: o espírito da verdade. Mas, quem “mede” - o indivíduo – só consegue mensurar o que lhe permite o seu possível. É como se cada um, na sua singularidade, carregasse uma “trena” idêntica e com ela medisse todas as coisas. Se mil indivíduos medissem, mil resultados diversos alcançariam. E, assim, ad eternum.


Por esse prisma, talvez possamos compreender melhor porque Sócrates tanto se opôs aos sofistas. Não se opunha só por cobrarem por seus ensinamentos e preleções, mas sobretudo por expressarem, invariavelmente, apenas “aparências”. Na tentativa de relativizar o absoluto, absolutizavam o relativo, porque” aparências” são sempre relativas a quem “aparecem”. Sócrates, por sua vez, acreditava numa essencialidade por trás das aparências (ou aparições, numa linguagem fenomenológica). Em outras palavras, acreditava numa “bússola” interior que orienta a todos em meio ao nevoeiro das aparições. Penso que falava do espírito da verdade. Falava, portanto, no terceiro incluído, que está entre, através e além de todas as coisas; está em tudo e em todos, mas não se revela igualmente em tudo e em todos. Faz uma “aparição” sui generis para cada um, por assim dizer.

Aqui, entramos novamente no pensamento novo, a Transdisciplinaridade. Como nos ensina Basarab Nicolescu (O Manifesto da Transdisciplinaridade, Editora Trion), a transdisciplinaridade “é aquilo que está entre, através e além de todas as coisas”. No mais profundo do nosso ser, na essência do "ser do ser humano", que é o espírito, reside o terceiro incluído, o espírito da verdade, rigorosamente o mesmo espírito da verdade.
Portanto, podemos dizer: há justiça. Porque a verdade está em todos em geral e o seu alcance depende de cada um em particular.

Continua...

O Pensamento Novo - Primeira Parte

As diversas abordagens da ciência no Século XX, fazendo novas descobertas e inveções, em especial na Física, colocaram na ordem do dia uma nova leitura da natureza, a necessidade portanto de um segundo olhar sobre a realidade que nos cerca.

A natureza não é mais a mesma. Nada é absolutamente concreto, definitvo, nem o conhecimento.
Na realidade mais profunda, a natureza revelou-se instável, dinâmica, um permanente vir a ser, onde seus componentes básicos surgem e desaparecem à velocidade da luz, de tal forma que nos "aparecem" estáveis, imóveis.

Quando olho para uma mesa, por exemplo, ela me parece fixa, imutável. Mas, se amplificá-la revelando o infinitamente pequeno, vejo o turbilhonar de particulas aniquilando-se e resurgindo em pacotes regulares, de acordo com a frequência em que meus olhos veem, ou seja, meus olhos não percebem os intervalos entre os pacotes porque captam o movimento das particulas nos mesmos instantes em que "aparecem", em um ritmo simétrico. Da mesma forma, quando toco a mesa, sinto-a compacta, sólida. Mas, isso não passa de um efeito sincrônico entre as particulas de ambos, sujeito que percebe e objeto percebido. Assim como meus olhos captam na mesma frequência dos pacotes de luz, as particulas que compõem as moléculas das mãos também vibram na mesma cadência. É uma simetria surpreendente, orquestrada. (Haveria um Maestro?)

Imagine um sala com vinte carteiras, nas quais sentam-se vinte pessoas. A cada segundo, entra uma pessoa pela porta principal e, simultaneamente, sai uma outra pela porta secundária, a velocidades próximas a da luz. Apesar do entra e sai, meus olhos veem permanentemente todas as carteiras ocupadas, embora não pelas mesmas pessoas. É como se piscasse a cada entrada-saída. Portanto, não apreenderia o movimento de troca.

Agora, vamos entrar no campo da pura especulação. A Fenomenologia nos diz que os fenômenos, aquilo que vemos e percebemos como exteriores a nós, nos "aparecem" em face da relação entre o sujeito e o objeto. Portanto, como os sujeitos são diferentes, ninguém vê da mesma forma as mesmas coisas. Muito bem. Por trás dessa diversidade de "aparições" deve haver um "ser" do fenômeno, algo que ele é, independentemente de quem olha, ou de ser olhado. Mas, ainda segundo a Fenomenologia, esse "ser" do fenômeno, embora exista, é indeterminado. Ele só é determinado no instante da relação sujeito-objeto.

Dando asas à imaginação: será que podemos aproximar esta visão com a da física quântica e deduzir que se, de um lado, o constante rearranjo subatômico dos objetos e, de outro, a singularidades dos sujeitos, fazem com que os fenômenos sejam sempre colapsos de onda singularizados? (conforme algumas interpretações da física quântica, não muito aceitas por parte dos cientistas). Em outras palavras, nós, inevitavelmente, rearranjaríamos singularmente cada objeto.
Voltando ao exemplo da sala com carteiras, é como se a cada instante um sujeito diferente olhasse para dentro da sala.Cada um veria sempre vinte pessoas sentadas, mas não as mesmas. ( Assista ao vídeo ao lado)
continua....

Transdisciplinaridade: Aprender a Pensar

A transdisciplinaridade ensina a pensar e não o que pensar. Afinal, se o sujeito se inclui no objeto de pesquisa, se cada descrição carrega consigo uma dose inequívoca da singularidade de quem a produz, não pode haver conhecimento fora do sujeito, apenas informação que, processada pela dimensão individual, única, de cada um, permite o conhecimento a cada um, de acordo com o seu possível. Cabe-nos, portanto, ensinar a pensar e não o que pensar, pois o "que" pensar é inerente a cada sujeito do conhecimento.
A ciência se faz pela verossimilhança entre os vários olhares, que confirmam determinadas verdades, sem ferir as singularidades. Amanhã, outros estarão fazendo um segundo olhar sobre as verdades de ontem e revelando novas descobertas, invenções e inovações, afirmando sempre o caráter biodegradável do conhecimento científico, filosófico e cultural. Ensinar a pensar é processo, acontecimento em movimento (A. Grimm); ensinar o que pensar é datado, estático, ancrônico.